domingo, 13 de abril de 2008

O amor maduro


O amor maduro não é menor em intensidade.

Ele é apenas silencioso.

Não é menor em extensão.

É mais definido, colorido e poetizado.

Não carece de demonstrações: presenteia com a verdade do sentimento.

Não precisa de presenças exigidas: amplia-se com as ausências significantes.

O amor maduro tem e quer problemas, sim, como tudo.

Mas vive dos problemas da felicidade.

Problemas da felicidade são formas trabalhosas de construir o bem e o prazer.

Problemas da infelicidade não interessam ao amor maduro.

Na felicidade está o encontro de peles, o ficar com o gosto da boca e do cheiro,
está a compreensão antecipada, a adivinhação, o presente de valor interior, a emoção vivida em conjunto, os discursos silenciosos da percepção, o prazer de conviver, o equilíbrio de carne e de espírito.

O amor maduro é a valorização do melhor do outro e a relação com a parte salva de cada pessoa.

Ele vive do que não morreu mesmo tendo ficado para depois.

Vive do que fermentou, criando dimensões novas para sentimentos antigos, jardins abandonados e cheios de sementes.

Ele não pede, tem.

Não reivindica, consegue.

Não percebe, recebe.

Não exige, dá.

Não pergunta, adivinha.

Existe, para fazer feliz.

O amor maduro cresce na verdade e se esconde a cada auto-ilusão.

Basta-se com o todo do pouco, não precisa e nem quer nada do muito.

Está relacionado com a vida e sua incompletude, por isso é pleno em cada ninharia por ele transformada em paraíso.

É feito de compreensão, música e mistério.

É a forma sublime de ser adulto e a forma adulta de ser sublime e criança.

É o sol de outono: nítido, mas doce.

Luminoso, sem ofuscar.

Suave, mas definido.

Discreto, mas certo.

Um sol que aquece até queimar...